Guiana: Uma cartilha sobre um aliado estratégico dos EUA nas Caraíbas e na América do Sul
Bem-vindo à segunda parte da nossa série de cinco artigos sobre a Guiana, um aliado dos Estados Unidos que se tornou uma das economias com crescimento mais rápido do mundo, impulsionado por um boom petrolífero que transformou a trajetória económica do país. Leia a Parte 1 aqui.
Os principais pontos da Parte 2 são:
- A Guiana atraiu US$ 7,2 bilhões em IDE em 2023, impulsionando grandes projetos nas áreas de infraestrutura, saúde, imobiliária e hotelaria, com contribuições significativas da China, Catar, Brasil, Áustria e Estados Unidos.
- O número de visitantes aumentou para 371.272 em 2024, levando as cadeias hoteleiras globais a adicionar 1.300 quartos até 2026 e o governo a lançar programas de formação em hotelaria e construir uma Instituição Nacional de Formação em Hotelaria.
- Apesar do rápido desenvolvimento, a infraestrutura precária fora de Georgetown e as capacidades limitadas de reservas digitais para operadores turísticos dificultam o acesso aos principais destinos, colocando desafios para o crescimento do turismo de alto padrão.
A Parte 3, com lançamento previsto para 8 de dezembro de 2025, enfocará as recentes mudanças promulgadas pela Guiana para modernizar o seu quadro regulatório.
O boom energético e infraestrutural da Guiana
Em 2023, a Guiana atraiu US$ 7,2 mil milhões em investimento estrangeiro direto. A sustentabilidade das indústrias de petróleo e gás na Guiana trouxe um enorme benefício para outros setores que prestam serviços à ExxonMobil e a investidores estrangeiros, levando a um desenvolvimento significativo e ao financiamento estrangeiro para infraestruturas (predominantemente estradas e pontes), imóveis comerciais e residenciais, hotelaria, turismo e saúde. No que diz respeito à infraestrutura, a China tem sido um investidor de longa data por meio de sua ampla “Iniciativa Cinturão e Rota”. Por meio dessa iniciativa, a China financiou reformas no Aeroporto Internacional Cheddi Jagan e está construindo uma nova ponte sobre o rio Demerara. As empresas chinesas também atuam nos setores de mineração e imóveis comerciais. A Zijin Mining, por exemplo, adquiriu campos de ouro em 2020 e está se expandindo para o lítio e minerais de terras raras.
Outros países, incluindo o Catar, estão de olho em investir na Guiana. A Qatar’s Assets Group, Inc., por exemplo, está a desenvolver um resort à beira-mar e centro de convenções no valor de US$ 300 milhões na capital do país, Georgetown. Empresas brasileiras estão envolvidas em vários projetos rodoviários para ajudar a conectar a Guiana e o Brasil e melhorar o comércio regional. A austríaca Vamed Engineering está a construir dois grandes hospitais, incluindo uma instalação de US$ 161 milhões em New Amsterdam. Os Estados Unidos estão a apoiar um projeto de conversão de gás em energia no valor de US$ 2 bilhões, com garantia de empréstimo de US$ 500 milhões do Banco de Exportação e Importação dos EUA, para reduzir os custos de eletricidade e as emissões, aumentar a capacidade de geração de energia, reduzir a dependência de combustíveis importados e criar oportunidades para o desenvolvimento industrial e as exportações.
O setor de turismo da Guiana também está se preparando para atender às necessidades futuras previstas. Em 2024, o número de visitantes atingiu um recorde de 371.272, um aumento significativo em relação aos 82.000 em 2020. Nos últimos anos, houve um aumento na construção de hotéis, com a Aiden by Best Western, Four Points by Sheraton, AC Marriott, Hyatt Place e Courtyard by Marriott a planearem adicionar 1.300 quartos na área de Georgetown até 2026. O Four Points está prestes a se tornar o primeiro hotel com certificação EDGE Advanced no Caribe, com base nas suas práticas sustentáveis e de eficiência energética. Para ajudar a formar os mais de 22 000 indivíduos que se prevê que venham a trabalhar na indústria hoteleira, o governo lançou programas de formação da força de trabalho e iniciou a construção de uma Instituição Nacional de Formação Hoteleira.
O governo também está a promover a interligação entre hotéis, operadores turísticos e empresas locais para melhorar a consistência entre as experiências turísticas e contrariar as preocupações percebidas em relação à segurança, infraestrutura e acessibilidade. De facto, embora o turismo esteja em ascensão, a infraestrutura fora da capital Georgetown e das principais vilas continua precária, dificultando o acesso a destinos turísticos em potencial, como as Cataratas Kaieteur, a Floresta Tropical Iwokrama e as Savanas Rupununi. Além disso, muitas empresas de turismo também carecem de sistemas tecnológicos adequados para reservas online e pagamentos com cartão de crédito, dificultando a organização de viagens para quem não é guianense ou para quem busca uma experiência de alto padrão.