Ondas cerebrais: 100 dias e além | Mudanças nas políticas presidenciais que afetam o setor automóvel
Num evento recente da Brainwaves, organizado pela Society of Automotive Analysts e pela Foley & Lardner LLP, intitulado «100 Dias e Além: Mudanças nas Políticas Presidenciais com Impacto no Setor Automóvel», executivos empresariais e jurídicos reuniram-se em Detroit para discutir as mudanças significativas nas políticas presidenciais e o seu profundo impacto no setor automóvel. Ann Marie Uetz, vice-presidente do departamento nacional de litígios da Foley, moderou um painel de especialistas do setor, incluindo Jason Puscas, ex-diretor administrativo, conselheiro geral e secretário corporativo da Bollinger Motors, Mario Spota, diretor de excelência em fabricação da Harman International, e Steve Wybo, diretor-gerente sênior da Riveron Consulting, para facilitar um diálogo significativo sobre o que as empresas podem fazer em meio à crescente incerteza e turbulência.
Enquanto os especialistas discutiam vários tópicos, desde a trajetória incerta do mercado de veículos elétricos (EV) até como lidar com o aumento das tarifas, alguns temas centrais se destacaram: fabricantes e fornecedores devem apoiar-se mutuamente agora mais do que nunca, compreender profundamente as suas estruturas de custos dinâmicas e permanecer ágeis e adaptáveis diante de políticas em rápida mudança. Aqui estão algumas conclusões:
Veículos elétricos: um caminho difícil pela frente
O painel destacou os desafios enfrentados pela indústria de veículos elétricos, enfatizando que as políticas governamentais estão a impulsionar os volumes de vendas de veículos elétricos mais do que as montadoras tradicionais. Os fabricantes de veículos elétricos estão particularmente preocupados com a possível revisão ou revogação de programas federais, como o programa National Electric Vehicle Infrastructure (NEVI) e os créditos fiscais para veículos elétricos. A suspensão do programa NEVI, que alocou US$ 5 bilhões ao longo de cinco anos para instalar carregadores de veículos elétricos em todo o país, criou uma profunda incerteza no mercado. Além disso, os formuladores de políticas provavelmente implementarão mudanças no crédito fiscal ao consumidor 30D e no crédito fiscal para veículos elétricos comerciais 45W, se não os eliminarem completamente.
As perspetivas para os veículos elétricos continuam sombrias, com os especialistas a preverem que os atrasos no lançamento persistam durante os próximos dois anos. Os mercados de capitais para veículos elétricos estão congelados e os fornecedores de veículos elétricos provavelmente irão consolidar-se. Prevê-se que a penetração dos veículos elétricos no mercado de consumo permaneça estável até que as infraestruturas melhorem e os custos de produção e aquisição diminuam. Dito isto, os veículos elétricos comerciais poderão ter um maior potencial de crescimento.
Tarifas e suas implicações
As políticas tarifárias são outra área de preocupação. A indústria está a preparar-se para um ambiente tarifário «intermitente», que exige que os fornecedores sejam ágeis e estejam preparados. Compreender toda a pegada de fabrico, a visibilidade da cadeia de abastecimento e a localização da força de trabalho são passos cruciais para os fornecedores mitigarem o impacto das tarifas. A saúde financeira dos fornecedores automóveis já está sob pressão, e o fardo adicional das tarifas pode agravar a situação.
O papel dos dados e do planeamento estratégico
Neste ambiente volátil, a tomada de decisões baseada em dados é fundamental. As empresas devem modelar cenários para as suas pegadas de produção, logística e força de trabalho para navegar pelo cenário em evolução. Ao procurar renegociar termos-chave com os fabricantes, os fornecedores devem ter os dados prontos e abordar os seus clientes com fatos concretos. Os especialistas enfatizaram a importância de compreender as origens das matérias-primas e toda a cadeia de abastecimento.
Temas e políticas no horizonte
Os participantes do painel também abordaram vários temas e políticas que podem ter um impacto significativo na indústria automóvel num futuro próximo. Entre eles estão:
- Fabricação e relocalização de automóveis: Dada a turbulência política e a mão de obra qualificada e abundante do México, é improvável que os fabricantes relocalizem a produção de produtos existentes do México para os EUA num futuro previsível. No entanto, o lançamento de novos produtos nos EUA é mais viável para a domesticação.
- Joint ventures EUA-China: A administração Trump poderia apoiar joint ventures EUA-China nos EUA, desde que a entidade seja detida maioritariamente por uma empresa norte-americana.
- Restrições tecnológicas e de propriedade intelectual: Os decisores políticos podem restringir ainda mais o intercâmbio de tecnologia entre os EUA e a China, limitando o desenvolvimento tecnológico na China.
- SUVs e pickups: SUVs, pickups e crossovers continuarão a dominar o mercado norte-americano, mas poderá haver uma tendência para simplificar ou eliminar características dos veículos maiores, a fim de reduzir os preços.
- Veículos autónomos: Espere lançamentos comerciais de veículos autónomos para atender determinadas rotas e regiões, particularmente no Texas.
- Pontuação EcoVadis: Os fabricantes podem basear-se em métricas relacionadas com ESG para selecionar fornecedores e reduzir o risco nas decisões de aquisição.
- Indústria 4.0/Fábricas conectadas: As decisões de sourcing das montadoras se concentrarão cada vez mais na tecnologia para aumentar a precisão das previsões de mercado e aumentar a visibilidade da produção e da qualidade.
O caminho a seguir
A indústria automóvel encontra-se numa encruzilhada, enfrentando um futuro complexo e incerto. As conclusões do evento Brainwaves sublinham a necessidade de as empresas se manterem alertas e adaptáveis, expandirem as suas cadeias de abastecimento, desenvolverem inventários maiores, estudarem os seus contratos e explorarem opções para renegociar termos críticos.
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